O viajante colonial em crise: a consciência colonialidade nos ressurgimentos de um personagem
Resumen
Os relatos (ou crônicas) de viagem coloniais funcionaram como referências para o imaginário das Américas. Gênero consolidado pela historiografia literária, a crônica de viagem colonial ofereceu, por meio do seu aparecimento no contexto da ficção contemporânea latino-americana, espaço para a discussão das relações entre o viajante e o nativo, sob um olhar obviamente comprometido menos com as estruturas do poder colonial e mais com a possibilidade da reescrita da história sob a ameaça da crise da representação. Nesse contexto, o romance El entenado (1983), de Juan José Saer, pode ser entendido como uma imitação das crônicas de viagem coloniais em que a composição da personagem viajante é deslocada para o primeiro plano em relação à paisagem e às alteridades descritas. Desse modo, a reescrita contemporânea dos relatos revela ter recebido forte influência do ethos do antropólogo e do método etnográfico, uma das formas pelas quais o viajante colonial, agora marcado pela consciência crítica da colonialidade do poder, ressurge ao longo do século XX. Com o objetivo de debater o lugar problematizado desse personagem, será trazido à discussão o romance Nove noites (2002), de Bernardo Carvalho, investigação de um narrador-repórter sobre a morte de um antropólogo no Brasil. Os dois romances provocam a reflexão sobre os ressurgimentos, na contemporaneidade, dos relatos de viagem e dos indianismos, afetados pelas histórias locais.
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PDFReferencias
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